sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Abertura: Fina Estampa

Postado por: Vejo de Tudo # 18:08 S/ Comentarios
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Após ser abandonada pelo marido, Griselda (Lília Cabral) teve que se virar para criar seus três filhos e seu neto. Virou o que ela mesma chama de Marido de Aluguel, um profissional que faz tarefas elétricas e hidráulicas na casa das pessoas. Por conta de sua profissão ela se despiu de toda a vaidade, vestiu um macacão de mecânico e saiu às ruas, sendo várias vezes confundida com um homem.
Essa é a trama central e inicial de “Fina Estampa”, novela das nove da Rede Globo que estreou na última segunda-feira. No decorrer da trama Griselda irá ganhar na loteria e vai ter aulas de etiqueta, passando também a se vestir melhor. Nesse momento ela vai se questionar o que tem mais valor em sua vida: o caráter ou a imagem.


De forma bastante subjetiva a abertura da novela mostra esses dois pontos da história.
Numa sala com espelhos  nas paredes, no chão e no teto vemos uma modelo desfilando. Na cena inicial, ela veste um macacão cinza, com cortes retos, muito austéro e formal. Ela aparece com pouca maquiagem e com uma trança no cabelo, despida, então, de qualquer vaidade, como é o caso da protagonista da novela. Ao longo da abertura percebe-se um tecido vermelho mais solto que aos poucos sai do macacão e vai transformando a roupa da modelo num vestido esvoaçante, com cintura marcada e um corte mais suave. Percebe-se, também, que a mulher agora está maquiada, com cabelos soltos e traços mais femininos.
Essa transição de vestuário e maquiagem mostra o que vai acontecer na vida de Griselda ao longo da trama, saindo de uma figura masculinizada para uma figura delicada e feminina.
Para representar a parte em que a protagonista se questionará sobre a importância entre imagem e caráter numa pessoa é que os espelhos estão presentes. Além de mostrar as várias faces de uma pessoa, a todo momento a modelo se olha, tenta se reconhecer e analisa a própria mudança visual, às vezes com cara de dúvida.
No fim da abertura, vemos detalhes que enfatizam ainda mais os dois pontos centrais da trama. Mesmo com um vestido bem feminino no corpo, nota-se ainda um pedaço de tecido cinza, fazendo alusão à origem da personagem, mostrando que ela ainda não perdeu sua essência.



E na cena final temos a modelo de costas ao que parece ser seu reflexo mas, na verdade, é ela mesma, porém como se fosse outra pessoa. Quando uma das imagens sai de cena a outra permanece e se vira para a câmera. Não existiria mais o questionamento sobre o que ela está se tornando, é um confronto entre duas pessoas diferentes, que se dão as costas, como se não se reconhecem mais.
A trilha sonora, num dos raros casos em que se usam apenas instrumentos, também traz essa mudança de personalidade como tema. Ela começa forte e pesada com batidas eletrônicas e aos poucos ganha novos aranjos e sons mais suaves, como violino e piano. No fim as duas partes se misturam e compôem um novo clima, uma nova personalidade.
Há também uma leve inspiração nas atuais propagandas de comésticos, em outra alusão à vaidade e imagem construída.
O logotipo da novela é um dos maiores pecados de toda a vinheta. A palavra “Fina” aparece como se fosse escrita com batom, em mais uma referência à feminilidade e à transformação pela qual Griselda vai passar. A palavra “Estampa” aparece em uma tipografia mais reta e condensada com traços mais finos que lembram os espelhos usados na abertura. Porém, o grande problema está em sua  diagramação. A letra S ficou mais alongada que o normal e ganhou um ascendente, ficando no mesmo nível da letra P, uma construção que não agrega valor semântico algum ao logotipo. Além disso, baseando-se na estética corrente de simular figuras e palavras num chão espelhado, a palavra “Estampa” ganhou um reflexo que desrespeita as leis da física e as letras S e P, por conta de seus ascendentes, vazam no reflexo e causam enorme estranheza. Há também a lembrança direta com o logotipo de “Mulheres Apaixonadas“.
Apesar de todos esses detalhes, a escolha de uma sala de espelhos não é uma novidade em se tratando de aberturas de novela. Em 1981, Hans Donner e sua equipe usaram do mesmo recurso para a produção da abertura de “Brilhante“. Existem diferenças narrativas e conceituais entre as duas aberturas, mas como a primeira se tornou um ícone de um trabalho bem feito, a vinheta continua sendo lembrada e a comparação é inevitável. Existe também alusão a abertura de Top Model, de 1989, em que várias modelos desfilavam por um cenário surreal, muitas delas com vestidos esvoaçantes e também vermelhos.
Ao invés de trazer originalidade ao modo como a trama central é tratada, a abertura de “Fina Estampa” deixou uma sensação de reciclagem e preguiça.





0 comentarios:

Postar um comentário

Procurar no Site